Coopetição não é um “erro de digitação”
Coopetição não é um erro de digitação. Através da coopetição, é possível desenvolver uma estratégia de negócios equilibrada, baseada nas características da cooperação e da competição. Com ela, abre-se um caminho importante para que um negócio amplie o seu mercado de atuação, acesse um leque maior de informações relevantes e melhore o seu desempenho e lucratividade.
Flexibilizando barreiras de mercado e de inovação através da coopetição
Nos anos 70, uma rivalidade clássica na Formula 1 envolveu dois pilotos com características e personalidades muito distintas: o austríaco Niki Lauda e o britânico James Hunt.
A princípio vistos como competidores ferozes, disputaram inúmeras corridas para brigar pela liderança; porém, declarações mais recentes de Lauda e um filme que retrata esta relação revelam uma admiração mútua…Uma possível explicação? Havia um estímulo comum que extrapolava a competição: a existência e manutenção de um ambiente vibrante e dinâmico nas Corridas.
Este episódio ilustra, na prática, uma situação na qual foi possível observar simultaneamente competição e cooperação em prol de um objetivo comum.
A combinação destas duas palavras deu origem a um termo utilizado a partir dos anos 90 para caracterizar uma situação em que concorrentes nem sempre são inimigos, mas, eventual e circunstancialmente, aliados: a coopetição.
Em linhas gerais, o conceito remete a uma ação conjunta entre competidores, a fim de se beneficiarem de características complementares ou mesmo para enfrentar desafios que podem ser endereçados de forma compartilhada.
No ambiente empresarial, a coopetição se faz presente no desenvolvimento de produtos, passando por processos internos (relacionados ou não a atividade principal da empresa) e avançando até as estruturas de distribuição.
Ações Conjuntas, Resultados Conjuntos
Apesar de parecer algo arrojado em um mercado tradicional, a premissa da coopetição é que rivais podem sim se unir em busca de resultados que se traduzam, dentre outros aspectos, por (i) redução de custos de produção e de distribuição; (ii) melhores condições para adquirir insumos; (iii) uma oferta de produtos mais completa e alinhada às necessidades dos clientes e, principalmente (iv) expansão do mercado em que atuam.
Em outras palavras, ao explorarmos eventuais parcerias com concorrentes, há potencial para, além de ampliar o mercado de atuação, obtermos efetivamente melhor desempenho e maior lucratividade.
O pano de fundo para esta forma de pensar é compreender que o ambiente de negócios não se divide de forma estática e simplificada entre quem está “contra” e “a favor” de nós.
Diversos exemplos ilustram este posicionamento: no início do séc. XX, fabricantes de automóveis e autopeças americanos adotaram coletivamente práticas para gerar investimentos na melhoria das estradas.
Mas recentemente, dois casos envolveram gigantes da tecnologia: um em que uma empresa ofereceu, em sua plataforma, suporte para softwares de outra e outro, no qual um fabricante de smartphones desenvolveu componentes para a tela do produto do concorrente.
Assim, a coopetição alinha-se aos princípios da inovação aberta, pois necessariamente envolve uma mudança de pensamento nas empresas: passamos do paradigma de “Deter equipes e conhecimentos exclusivamente internos” para “Explorar oportunidades conjuntas com parceiros externos”, visando aprimorar e contribuir com o mercado.
As possibilidades são múltiplas. Uma rápida busca na internet nos revela na prática a atuação conjunta de equipes de concorrentes em projetos específicos, tais como no desenvolvimento de softwares ou carros autônomos.
Passamos do paradigma de “Deter equipes e conhecimentos exclusivamente internos” para “Explorar oportunidades conjuntas com parceiros externos”.
Este mesmo conceito pode ser aplicado na busca de parceiros externos que atendam simultaneamente aos interesses de dois ou mais concorrentes do mercado. Exemplificando, uma startup que lida com automatização de gestão de boletos pode oferecer uma mesma solução para mais de uma empresa da indústria farmacêutica, uma vez que a atividade principal das farmacêuticas não é essa.
Logo, é possível depreender que os conceitos de inovação aberta e coopetição não se referem somente ao desenvolvimento de ideias ou ao produto final, mas também a uma forma de pensar e trabalhar junto a demais agentes de mercado.
Governança
Logicamente, assim como em uma corrida de Fórmula 1, aqui devem existir regras. Para que este modelo funcione, é fundamental ter como ponto de partida uma avaliação prévia de riscos e benefícios.
Além disso, outro tema crítico é a existência de uma governança na gestão da parceria, com direitos e obrigações bem definidos e, sobretudo, clareza e transparência quanto ao escopo, prazo e resultados esperados.
Uma reflexão final
Nesta “Era dos CO´s” – COlaboração, COmpartilhamento, COnexão, COopetição. – precisamos reavaliar a visão tradicional de mercado como uma “corrida eliminatória”.
Ao considerar que cooperação e competição não são posturas unicamente excludentes – mas flexíveis o suficiente para se combinarem, conforme contexto e circunstância – por que não refletirmos sobre os benefícios de, eventualmente, olhar para oportunidades a explorar “em equipe”, ao invés de focar nos “corredores” individualmente?
Quem sabe, ao fazer isso, saímos de curvas “cegas” em corridas rumo ao podium de nossos mercados e vislumbramos – junto com nossos concorrentes – novos horizontes para lidar com inovação, desenvolvimento e crescimento sustentado de mercado? Afinal de contas, assim como Lauda e Hunt, só podemos correr se houver combustível para todos, os carros funcionarem e as pistas apresentarem condições de segurança, certo?
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*Flávio Arruda é sócio da Ziel Inteligência de Mercado e Inovação, onde desenvolve projetos de Inteligência para empresas, relacionados à geração de informações sobre mercado, concorrência, novos produtos e iniciativas, de forma a oferecer recomendações que agreguem valor às decisões estratégicas dos clientes. Atua também em projetos de Inovação Aberta, oferecendo soluções modulares relacionadas à jornada de inovação, com ênfase na troca de melhores práticas entre os diversos elos da cadeia de valor de uma empresa.
Além disso, é Mentor de empreendedores em programas de aceleração, tendo participado de bancas de demoday de startups de setores diversos, notadamente Finanças, Educação, Infraestrutura e Inclusão Social e desenvolve projeto de Aprendizado com Erros e Fracassos – para a construção de uma nova mentalidade ao lidar com este tema no exercício do empreendedorismo e da inovação.